Peace
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Em 1996 o RAP
estava muito vivo.
Nem todo mundo sabía quem Fazia RAP na cidade de
Luanda. Ouviamos Falar de alguns meetings e alguma actuações no terraço
de um prédio ao Lado do CODEM no Bairro da Maianga, mas não estavamos
interessados. Nel Boy Das Daburda, Mavy Man, Mondlane Afroket Kool Kleva
eram nomes que soavam Durante as conversas sobre Hiphop. Numa noite
quente de Luanda, encontrei-me com um
vizinho novo da mesma idade do que eu, era o Nelo ou Udgibugi. Udgibugi
afinal, era do Grupo Duplo V da terra nova.
Foi Udgibugi que me informou
que não era preciso Cunha e padrinhos na cozinha para se cantar em
espetáculos de música. Bastava ter o instrumental e música comprovada
com qualidade. Na altura um dos artístas Mai's famosos era o Zulu in tha
House. Angolano que vivia na África do Sul e cantava algo parecido com o
Kwaito. Conheci na mesma altura os Zippy, Dabulls e Djeza. Grupo que
cantavam a música Abracadabra, eram apadrinhados por Nel Boy. Nel Boy
Andava muito com o Walter Ananás dos NSex Love, na altura. Os impactos
Quatro estavam a ascender rapidamente.
Havia uma corista chamada Maria
que Fazia coros para os NSex Lov e os SSP em espetáculos ao vivo, a
Maria depois viajou para Cuba. Conheci o Eugénio e o Nekruma Beia. Na
verdade Nekruma Beia falava muito mas tinha sempre razão e isto irritava
muita gente.
Quando decidi escolher o nome de Sixckim, fui a casa do
Nekruma Beia pedir opinião, Nekruma disse me que gostava do nome e que
seria bom adicionar letra C no meio do nome para dar style. Como tinha
(S)olange (I)gor (X)avier Kim(Joaquim) , iníciais de nomes de pessoas
que me motivaram, adicionei o (C)arlos, que tambem motiva-me bastante e
ficou SIXCKIM. Eu e o Nekruma Beia conversvamos horas e horas, decidimos
formar um grupo com o Eugénio e tentamos algumas coisas.
Conheci a
Gina, no Puniv, não saiba que ela cantava tão bem e que estava bem
enquadrada no Movimento. Houve um dia em que encontrei a Gina com uma
travessa recheiada de frangos grelhados azeitonas e alface,
perguntei-lhe se era para uma festa e ela disse me que era para o
encontro dos Reppers no terraço de um prédio na Maianga. Nunca percebi
tanta boa devoção .
Conheci o Lindo Busha e os membros dos Delícias. Na
altura o estudio Mai's frequentado para gravações era o estudio do
Mister Paul. Mister Paul era um cota formado em música em Cuba.
Organizou um espetáculo de underground em frente ao Macarenco e Cine
Atlântico com 152 grupos. Alguns Reppers afinal Faziam parte de 5 grupos
ao mesmo tempo em bairros diferentes e as coisas começaram a pegar
fogo. Em Pleno espetáculo o Dj baixava a música depois do primeiro coro
mandava sair. Mas quando eram amigos do Dj, a música tocava até ao fim. O
público gritava que era uma coisa doida.
O Rasta Dread Josef era
conhecido, mas havia um outro Rasta que lhe perseguia sempre, e gostava
de bifar o Josef em público. Não era fácil obter CD, gravavamos em
bobines magneticas. Para os Mai's novos, saberem, são fitas magneticas
enroladas como nas cassetes, mas muito maiores, que levavamos a rádio
para trocar a musica.
Na Vila Alice existía o estúdio do Nel-B, Nel-B
era um jovem muito luscido quejà tinha estado na Alemanha, em uma hora
Fazia o teu beat e gravava a tua música e te entregava tudo com a
disquete, depois, o próximo da fila entrava no estúdio. Chitu
Kumulukumba já falava de consciêcia com o brother Tétémbua, penso que os
Dois eram do Palanca, já não me lembro. Quem acabava com o flow de
todos quando aparecia era o Jaja Pessoa, eu nunca vi tanto flow numa só
Pessoa. Em termos de presença quem tinha muita presença eram os
Attitudes, Attitude T, acho que é irmão do Kool Kleva, havia tambem o
Attitude Violenta e um Attitude Consciente algures. Na multidão havia o
grupo Africa Preta que Conheci apenas um dos membros, o outro tinha
acabado por falecer alguns meses antes, porque tentou lutar com um
militar na rua e foi baleado.
A cidade estava cheia de reppers. Conheci o
Mumu. Mumu era companheiro do Yanick Afromen, foi o Mumu que
apresentou-me ao Yanick, os Dois andavam sempre juntos de cima abaixo na
cidade de Luanda, eram grandes cambas do pessoal da Eboni Squad. O
pessoal da Eboni Squad era pacífico, mas na hora de cantar muitos
fugiam, era talento puro e raro.
No Maculusso havia o Camacho, e o Zeca
Matoso. Foi o Claudio que me apresentou o Camacho, foi o Da Bulls quem
me apresentou o Zeca Matoso. Conheci o Syanuk na Maianga, falava muito e
analisava tão bem o Hiphop que mesmo sem cantar a casa dele tinha
sempre visitas de Reppers a procura de convivio e boa compania.
Conheci
pessoalmente o Tetembwa, 9 Anos Mai's tarde, nas colinas de Hatfield,
perante gurus vaishnavas, Tetembwa torn ou-se num bramachari do ashram
de Pretoria. Tetembwa informou-me que tinha treinado um jovem a cantar
Rap e este jovem por sua vez treinou o MCK.
Conheci o Grande L, ainda
não era o Grande L, o seu primeiro nome de Repper era Cão Leão. Havia um
programa de RAP na rádio LAC de Nkruma e White Shadow Killer(Penso que
era o nome do Luaty) que passava muita música RAP. Ter Botas Timberland
era um grande luxo na altura. Mas quando estive na Africa do Sul fiquei
sabendo que eram botas para trabalhos de jardinagem e outros trabalhos
semi pesados.
Nas músicas falava-se de tudo um pouco, ainda não havia a
tendência politica antigoverno em Angola. Pelo Menos não se Fazia sentir
em quase nada.
O primeiro show de Rap em que participei foi organizado
pelo Mateus Gonçalves na Feira Popular do Bairro Popular. Era um Show do
Zulu in Tha House. Foi neste show que Conheci Father Mack. Ninguem
tinha instrumentais de grande qualidade, os Reppers cantavam por cima
dos instrumentais de Singles americanos. Havia um problema grave. O
grupo Africa Preta tinha levado um instrumental do cantor americano
Keith Sweat para cantar e father Mack tambem tinha levado o mesmo
instrumental. Ninguem aceitou largar o beat então no mesmo show houve
duas actuações com o mesmo beat. Eu cantei com um beat feito pelo Nel-B e
no fim fiz um freestyle. Ao sai do palco encontrei vàrios jovens a
minha espera, queriam felicitar-me pessoalmente. Foi o melhor momento do
Show e do ano para mim.
Ouviamos música em cassetes, a melhor marca era
TDK. Gravavamos e regravamos na mesma cassete, varia musicas.
Trinavamos Rap e freestyle no terraço do Prédio do Claudio com vários
MCs incluindo o Yuri Fantomás que é meu primo. Na altura o grupo dele
chamada se Poetas do Asfalto. SSP era o único grupo que piassava
constantemente na TPA e na RTP para quem tinha . Durante quase um Anos
passavam todos os dia amúsica da Isidora Campos intitulada "Meu
Sambapito".
Gravei duas musicas nos estudios da Orion e mostrei pela
primeira vez aos meus pais. Foi aí então que me revelaram que durante a
sua juventude o meu pai tinha feito parte de um conjunto. As morgues de 2
PAC e Notorious BIG foram duras e muito difíceis de se aceitar. Sei que
alguns ficaram desapontados e pararam de cantar definitivamente, porque
tinham perdido os seus ídolos queridos. Para muitos foi o fim. O cota
Miguel Neto fazío o programa Explusão Musical, era para a maioría a
única fonte de novidade de HipHop. Cota Miguel foi um dos maiores
impulsionadores da cultura HipHop em Angola e merece respeito.
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