Num momento em que as atenções do movimento tendem a virar as baterias para os aspectos políticos da coisa nunca é demais recordar que a nossa condição de “MCs” exige muito jogo de cintura no que tange a veiculação da mensagem bem como a sua preservação.
O debate que se levanta agora sobre a “formatação” de artistas como produtos de marketing, traz ao painel de discussões algo que existe não só aqui, como em outras paragens, como é o caso dos Estados Unidos da América.
Por um lado o artista com o seu poder de “comunicólogo” e do outro os interesses de quem investe no produto que como tal (investidor) tem agenda própria, um público alvo e cria uma estratégia para o atingir e se possível ampliar a sua abrangência.
Aonde fica o MC no meio disto tudo?
Aonde para a artisticidade quando ocorre a exposição do mesmo [MC] aos grupos de pressão que o rodeiam?
Convém aqui abrir uma pequena nota, para lembrar que não são apenas os grupos que investem financeiramente, que prepararam e formatam o MC como produto, também os políticos e as suas organizações, assim como o pessoal das ONGs, instituições governamentais, etc, estam sempre a espreita, procurando rostos visíveis para as suas causas usando como recurso valioso aquele que com a voz pode influenciares milhares.
Como preparar o artista para o embate de ideias e ideologias que irão aparecer assim que o seu talento se tornar evidente para essa espécie de “olheiros”?
Quem como eu já começou esta corrida a muito tempo, conhece bem as dificuldades e as "voltas" que dá o artista cá na nossa praça, aonde tem que mendigar financiamentos, galgar de cima para baixo distribuindo cartas, criando mil formas de cair nas graças de quem tenha algum e queira de alguma forma apoiar ou investir na cultura e na música em particular.
Situando o artista à sua realidade, eis as questões de fundo:
Será possível ser “revolutionary but gangsta” ? “Popular mas não ser Pop”? Quais as possibilidades de Se ter ambas no contexto musical angolano?
1 comentário:
Passeando os olhos e os miolos pelas estradas do pensamento eis que me deparo sentado neste interessantíssimo ondjango cultural e deparo-me com as intrigantes ou talvez não tão intrigantes questões: “Será possível ser Revolutionary but gangsta” ? “ Será possível ser Popular mas não ser Pop”?
Começando pela última creio que é de facto possível ser “ Popular mas não ser Pop” e como casos de estudo prático, permita-me facultar-lhe dois exemplos que me ocorrem de imediato que são; Afromen “Yanick” e Mc K.
Cogito que os supracitados são provas irrefutáveis que etu mudietu é de facto possível “ser-se popular sem comprometer a integridade artística”. Ambos os casos sedimentaram padrões da arte semelhantes apenas a si mesmos e ao longo do seu horizonte temporal no movimento ambos contribuíram de modo suis generis para a evolução da arte “tanto na escolha de bases instrumentais como na maneira de abordagem dos temas per si interpretados”. Pautando pelo respeito pelo seu público bem como respeitando a si mesmos, sem comprometer a integridade e altitude do trabalho artístico.
Partindo para a questão Revolutionary but gangsta julgo que se pode usar como exemplo os casos Mr K e Mukadaff, o primeiro artista que no seu alter ego refere-se a si mesmo muitas vezes como o rapper bandido; foi e é um dos artistas que na sua abordagem artística sempre manifestou pensar revolucionário na sua intervenção artística seja ela incidente sobre à família, relacionamentos ou o movimento. Mukadaff conhecido pela maioria como o rapper gangsta com a atitude de adorar mandar rappers po c*r*lh* e chillar de milhões, é também uma das vozes que igual ao seu ex parceiro de arte sempre manteve a mensagem revolucionária no seu reduto, sendo ele o guerrilheiro fora da mata soldado civil.
Portanto é possível os artistas serem revolutionary but gangstas e populares sem serem pop. A questão será talvez por quanto tempo conseguirão manter-se assim atendendo que tanto na esfera política como musical o sucesso esteja muitas vezes indissociavelmente ligado a uma práctica que o caro Miguel Cardoso apelidou como *culambismo, ou seja, a arte de lamber c*s.
Skuatah Dikas
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